Cresce a adesão a planos privados como alternativa para garantir estabilidade financeira
Mesmo com as mudanças nas regras da aposentadoria e o aumento da expectativa de vida, grande parte dos brasileiros ainda não se planeja financeiramente para o futuro. Desde a Reforma da Previdência, os critérios ficaram mais rígidos: em 2025, a idade mínima passou a ser de 59 anos para mulheres e 64 para homens, com exigência de 30 e 35 anos de contribuição, respectivamente. Paralelamente, o Brasil vive um processo de envelhecimento populacional, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida atual é de 76,4 anos.
Apesar desse cenário, o planejamento financeiro continua sendo negligenciado. Pesquisa da Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, divulgada em 2025, aponta que 60% da população só começa a pensar na aposentadoria com até cinco anos de antecedência. Essa falta de preparo compromete o valor do benefício e leva muitos a continuar trabalhando mesmo após se aposentar.
O mesmo levantamento revela que 64% dos aposentados consideram o valor recebido inferior ao necessário, o que tem impulsionado a busca por alternativas que ofereçam mais estabilidade financeira após o fim da vida ativa. Entre essas opções está a previdência privada. Segundo relatório da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), divulgado em maio de 2025, 11,2 milhões de brasileiros possuem ao menos um plano de previdência privada aberta, o equivalente a cerca de 7% da população adulta.
A trajetória da professora aposentada Rosana Ramos, de Manaus, ilustra bem esse cenário. Ela se aposentou em 2017, após cumprir os requisitos de tempo de serviço e idade, mas decidiu continuar trabalhando para ajudar no sustento da família. “Minha motivação foi ajudar a família a ter uma ajuda financeira boa”, conta. Rosana admite que não pensou em previdência complementar e acreditava que o tempo de trabalho seria suficiente.
“Ficar só dependendo da aposentadoria não é interessante. É importante planejar, organizar, porque a vida não é barata e não é fácil quando ficamos mais velhos.
Para a economista Denise Kassama, fundadora do grupo Economistas Solidários, a organização financeira ainda é um desafio, principalmente na “melhor idade”. Ela reforça que o planejamento deve começar cedo: “Quanto antes as pessoas começarem a pagar, menor vai ser a parcela de contribuição.” Ela ressalta que iniciar uma reserva nos 20 anos pode garantir uma aposentadoria mais confortável aos 50.
A previdência privada tem ganhado espaço como alternativa para quem busca independência financeira na aposentadoria. Segundo o corretor de seguros e especialista em planejamento financeiro João Penalber, trata-se de um investimento em renda fixa, com foco na acumulação de recursos ao longo do tempo.
“A previdência privada é um investimento em renda fixa, cujo objetivo é acumular reserva o suficiente através dos juros compostos, para que você não dependa da previdência social para se aposentar
Penalber alerta que confiar exclusivamente no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode comprometer o padrão de vida na aposentadoria. “Imagina só uma pessoa que recebe R$ 10 mil e, ao se aposentar, passa a receber R$ 2 mil. É uma mudança de qualidade de vida absurda”, afirma. Segundo ele, apenas 1% dos idosos no Brasil têm independência financeira, o que reforça a importância de começar a investir cedo. “Quanto mais tempo de contribuição, mais ganho você vai ter.”
O corretor explica que existem diferentes modalidades de previdência privada, e a escolha depende do perfil e dos objetivos de cada pessoa. O Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) é indicado para quem faz declaração simplificada do Imposto de Renda ou não contribui para o INSS. Já o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) é mais vantajoso para quem faz a declaração completa do IR e contribui para o INSS. “Vai muito da estratégia e da realidade de cada pessoa”, ressalta.
Além dos benefícios fiscais, Penalber destaca que muitos empresários utilizam a previdência como forma de reduzir a carga tributária. Ele recomenda que pelo menos 20% da renda mensal seja destinada a investimentos, incluindo a previdência, e reforça que o ideal é começar o quanto antes. “Tem muitos jovens que se preocupam, mas pensam: ‘ah, eu vou deixar para amanhã porque eu ainda sou jovem’, sem pensar no amanhã.”
Para ele, a previdência é mais adequada para quem tem um perfil conservador, mas pode ser combinada com outros investimentos. “Desvantagem mesmo é você não ter nenhum tipo de investimento”, detalha. Penalber também alerta para a importância de contar com orientação especializada. “Nos bancos, eles focam geralmente mais no valor para bater a meta. Um consultor vai tratar diretamente da sua necessidade.”